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Pintura
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Masaccio:
Cristo e o tributo, 1425-1428. Capela Scrovegni

Rafael:
A Escola de Atenas, 1509. Vaticano
Sucintamente, a contribuição maior da
pintura do Renascimento foi sua nova maneira de representar a natureza, através de domínio tal sobre a técnica pictórica e a
perspectiva de ponto central, que foi capaz de criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional em uma superfície plana. Tal conquista significou um afastamento radical em relação ao sistema
medieval de representação, com sua estaticidade, seu espaço sem profundidade e seu sistema de proporções simbólico - onde os personagens maiores tinham maior importância numa escala que ia do homem até Deus - estabelecendo um novo parâmetro cujo fundamento era matemático, no que se pode ver um reflexo da popularização dos princípios filosóficos do racionalismo, antropocentrismo e do humanismo. A linguagem visual formulada pelos pintores renascentistas foi tão bem sucedida que permanece válida até hoje.
[13][30]
O cânone greco-romano de proporções voltava a determinar a construção da figura humana; também voltava o cultivo do
Belotipicamente clássico. A pintura renascentista é em essência linear; o
desenho era agora considerado o alicerce de todas as
artes visuais e seu domínio, um pré-requisito para todo artista. Para tanto, foi de grande utilidade o estudo das esculturas e relevos da Antiguidade, que deram a base para o desenvolvimento de um grande repertório de temas e de gestos e posturas do corpo. Na construção da pintura, a linha convencionalmente constituía o elemento demonstrativo e lógico, e a cor indicava os estados afetivos ou qualidades específicas. Outro diferencial em relação à arte da Idade Média foi a introdução de maior dinamismo nas cenas e gestos, e a descoberta do sombreado, ou
claro-escuro, como recurso plástico e mimético.
[14][30]
Giotto, atuando entre os séculos XIII e XIV, foi o maior pintor da primeira Renascença italiana e o pioneiro dos naturalistas em pintura. Sua obra revolucionária, em contraste com a produção de mestres do
gótico tardio como
Cimabue e
Duccio, causou forte impressão em seus contemporâneos e dominaria toda a pintura italiana do
Trecento, por sua lógica, simplicidade, precisão e fidelidade à natureza.
[31]Ambrogio Lorenzetti e
Taddeo Gaddi continuaram a linha de Giotto sem inovar, embora em outros características progressistas se mesclassem com elementos do gótico ainda forte, como se vê na obra de
Simone Martini e
Orcagna. O estilo naturalista e expressivo de Giotto, contudo, representava a vanguarda na visualidade desta fase, e se difundiu para
Siena, que por um tempo passou à frente de Florença nos avanços artísticos. Dali se estendeu para o norte da Itália.
No
Quattrocento as representações da figura humana adquiriram solidez, majestade e poder, refletindo o sentimento de autoconfiança de uma sociedade que se tornava muito rica e complexa, com vários níveis sociais, de variada educação e referenciais, que dela participavam ativamente, formando um painel multifacetado de tendências e influências. Mas ao longo de quase todo o século a arte revelaria o embate entre os derradeiros ecos do gótico espiritual e abstrato, exemplificado por
Fra Angelico,
Paolo Uccello,
Benozzo Gozzoli e
Lorenzo Monaco, e as novas forças organizadoras, naturalistas e racionais do classicismo, representadas por
Botticelli,
Pollaiuolo,
Piero della Francesca e
Ghirlandaio. Nesse sentido, depois de Giotto o próximo marco evolutivo foi
Masaccio, em cujas obras o homem tem um aspecto nitidamente enobrecido e cuja presença visual é decididamente concreta, com eficiente uso dos efeitos de volume e espaço tridimensional. Dele se disse que foi
"o primeiro que soube pintar homens que realmente tocavam seus pés na terra".
[30] Junto com Florença,
Veneza representa a vanguarda artística européia no
Quattrocento, dispondo de um grupo de artistas ilustres, como
Jacopo Bellini,
Giovanni Bellini,
Vittore Carpaccio,
Mauro Codussi e
Antonello da Messina. Siena, que já fizera parte da vanguarda em anos anteriores, agora hesitava entre o apelo espiritual do gótico e o fascínio profano do classicismo, e perdia ímpeto. Enquanto isso também outras regiões do norte da Itália começavam a conhecer o classicismo, através de
Perugino em
Perugia;
Francesco Laurana em
Urbino;
Pinturicchio, Masaccio,
Melozzo da Forli, e
Giuliano da Sangallo em Roma, e Mantegna em
Pádua e
Mântua.
[32] Também deve-se lembrar a influência renovadora sobre os pintores italianos da técnica da
pintura a óleo, que no
Quattrocento estava sendo desenvolvida nos Países Baixos e atingira elevado nível de refinamento, possibilitando a criação de imagens muito mais precisas e nítidas e com um sombreado muito mais sutil do que o que era conseguido com o
afresco, a
encáustica e a
têmpera. As telas flamengas eram muitissimo apreciadas na Itália exatamente por essas qualidades, e uma grande quantidade delas foi importada, copiada ou emulada pelos italianos.
[13]
Mais adiante, na Alta Renascença, com
Leonardo da Vinci, a técnica do óleo se refinou e penetrou no terreno do sugestivo, ao mesmo tempo em que aliava fortemente arte e ciência. Com
Rafael o sistema classicista de representação visual chegou a um apogeu, e se revelou a doçura, a grandeza solene e a perfeita harmonia. Mas essa fase, de grande equilíbrio formal, não durou muito, logo seria transformada profundamente, dando lugar ao Maneirismo. Aqui
Michelangelo, coroando o processo de exaltação do homem, levou-o a uma nova dimensão, a do sobre-humano, abrindo-lhe também as portas do trágico e do patético. Com os maneiristas toda a noção de espaço foi então alterada, a perspectiva se fragmentou em múltiplos pontos de vista, e as proporções da figura humana foram distorcias com finalidades expressivas ou meramente estéticas, formulando-se uma linguagem visual mais dinâmica, vibrátil, subjetiva, dramática e sofisticada.
Pontormo,
Veronese,
Romano,
Tintoretto,
Bronzino, e Michelangelo em sua fase madura foram exemplos típicos do Maneirismo plenamente manifesto.
Giorgio Vasari, um pintor e arquiteto maneirista de mérito secundário, também deve ser lembrado por sua importância como biógrafo e historiador da arte, um dos primeiros a reconhecer todo o ciclo renascentista como uma fase de renovação cultural e o primeiro a usar o termo "Renascimento" na bibliografia, em sua enciclopédica
Le Vite de' più Eccellenti Pittori, Scultori e Architettori, uma das fontes primárias para o estudo da vida e obra de muitos artistas do período.
Bibliografia: